29.12.12

Matryoshka - Capítulo 5


Chego em casa, com o sentimento de ansiedade fazendo-me quase tremer. O que estaria escrito ali?

Sento no velho sofá, abrindo o livro. Com a ajuda de uma lupa e um dicionário, vou identificando as palavras das páginas apagadas, uma a uma. Eu tinha tempo o suficiente, afinal, eu não precisava dormir.

 Acabei descobrindo que o livro não foi escrito por meu criador, como eu pensava. Havia sido alguém antes dele. Os juníperos que estavam no livro, eram os necessários para criar uma Matryoshka como eu. O pó de cor escura que eu lembrava-me de ter visto no dia que fui criada, era o pó que havia invertido as funções do junípero. E estes, quando foram absorvidos pelo meu corpo morto, me fizeram ter. Mas isso não foi o que mais me chocou, apesar de tudo.

Eu já havia sido humana um dia.

 Minha cabeça doía intensamente enquanto as lembranças não paravam de voltar. Mas o que mais ficou marcado em mim foi: Primeiro, meu criador havia sido meu melhor amigo, e me amado enquanto eu estava viva. Segundo, eu havia o rejeitado e ficado com outra pessoa. Terceiro... ele havia me matado.

 A dor lascinante queimava junto com o meu ódio agora. Ele havia acabado com a minha vida para me transformar no que eu sou agora, uma boneca de remendas.

 Eu sentia a raiva me consumir. Havia me matado, me recriado e me traído novamente. Havia mentido para mim de novo. Me enganou pela segunda vez. E eu confiei tanto nele.

 - O único jeito da decomposição de uma Matryoshka parar é ela matando o seu criador – Eu recitei o que estava no livro.

 Então era disso que ele estava com medo. Eu nunca o mataria antes. Mas agora que eu havia descoberto tudo o que ele já me fez...

 Pego a grande faca afiada em um dos balcões da cozinha da velha casa. Não faria mal algum devolvê-lo o ‘’favor’’, não é?

 E com um sorriso cínico, eu espero pacientemente a hora de sair novamente. A hora da minha vingança.



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