29.12.12

Matryoshka - Capítulo 4


 Eu não enxergava quase nada por causa da escuridão e da neblina da noite. Escuto o som dos carros passando em alta velocidade pela rua, e os cachorros da vizinhança latindo. Assim que consigo avistar a casa de costura, vou para a parte dos fundos da mesma. Entraria pela porta de lá para não chamar a atenção.

Essa é a primeira vez que estou desobedecendo meu criador.

Abro a porta, e a fecho cuidadosamente. As luzes estavam apagadas. Ele provavelmente pensou que eu não viria hoje, porque eu sempre chego mais cedo. Subo as escadas cautelosamente, e entro na biblioteca, me deparando com um pequeno problema:

Como iria achar o livro, no meio de tantos outros?

Penso um pouco. Onde ele colocaria um livro que esconde de mim? Ele poderia tanto colocá-lo aleatoriamente em um lugar, quanto esconde-lo num lugar onde não vou, e nem sua mulher pudesse encontrá-lo. Apostei na segunda alternativa. Era minha única chance. Mas onde...?

Lembro-me do antigo quarto dele. Na gaveta com fundo falso do armário. Eu lembrava vagamente de ter visto um livro parecido com aquele que eu havia pegado. Mas porque ele o colocaria na biblioteca para logo depois, voltá-lo para lá? Isso não tem lógica. Mas é o único lugar que tenho em mente.

Saio da biblioteca, indo para o antigo quarto de meu criador, me certificando que ninguém estava descendo do terceiro andar, onde ele e a esposa dormiam. Abro a porta do quarto, e vejo cômodo zoneado. Ele com certeza era péssimo para organizar as coisas.

Abro a gaveta do armário, tirando as coisas de lá, e logo depois o fundo falso. Avistei o livro que eu queria, no meio de alguns porta-retratos.

Bingo.

Pego o livro, folheando-o. Era este mesmo, agradeci por me lembrar daqui. Apesar de já poder ir embora, quase em um movimento automático eu olho para a gaveta novamente. O que estava dentro dos porta-retratos eram...fotos dele comigo...?

Não...não, estava sem remendas...e eu não me lembro desse dia...E os meus olhos não são dessa cor... Me pergunto se ele havia me criado por causa desta mulher. Com certeza, a semelhança não era mera coincidência. Mas minha cabeça dói ao pensar sobre o assunto. 

De qualquer jeito, eu já tinha o que queria. Precisava sair dali rápido.

Deixo o cômodo, e desço as escadas rapidamente, logo após deixando a casa com um sorriso cínico. Olho para o que tenho em minhas mãos.

O que será que tem de tão importante escrito nele?

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