29.12.12

Matryoshka - Capítulo 3

Assim que volto pra casa, sento-me no velho sofá e tento resolver aquele quebra-cabeça. Certo, em primeiro lugar, onde eu havia visto aquelas plantas do livro?


Fecho os olhos, enquanto forço a minha mente a se lembrar.


Sim... Eu já havia visto ramos daquelas plantas... Há muito tempo atrás...


Exatamente no dia que eu havia sido criada.


–--flashback----

Eu estava deitada no chão frio. Sento, e pela primeira vez olho para as minhas mãos que ainda estavam quentes. Eu também sabia que partes de meu corpo eram de tecido, eu os sentia, mas isso não me incomodava.

Vejo meu criador de aproximadamente vinte e um anos, ajoelhado do meu lado e sorrindo, apesar de sua roupa manchada de sangue, e ele me abraça.

– Você é minha Matryoshka agora... Minha Gumi...

Assim que ele se afasta, passo a mão na remenda que ele havia feito em meu pescoço, enquanto olho em volta. Vários ramos secos de junípero cobriam a sala, e também estavam com um pó preto que não consegui identificar o que era.

– Agora que eu te fiz ter vida... – Ele começou, sério – Você será sempre fiel a mim.

Assenti, apesar daquilo não ter sido uma pergunta.

E ele me beijou.

Eu ainda estava de olhos abertos. Eu não sentia nada, mas se era isso que ele queria, eu retribuí.

Continuamos assim por alguns meses, até o meu corpo começar a se decompor, apesar dos produtos que ele me mandava usar para isso não acontecer. Logo eu comecei a substituir essas partes por pano, mas quanto mais isso acontecia, mais eu o via se afastar. Logo, ele já nem olhava para mim mais, e casou-se com outra, me colocando em uma casa distante da dele. Neste dia ele também me disse que quando eu precisasse de linhas e tecidos, fosse na loja dele à noite.

–-----

Dou um sorriso cínico. Eu havia sido criada, usada e abandonada.

Mas eu não estava com raiva dele. Eu não o culpava por fazer isso, já que eu sou só uma boneca que não poderia sentir nada por ele.

Mas agora eu sabia que aquela planta tinha haver comigo. E, com certeza naquele livro pode conter coisas sobre mim que eu ainda não sei. E com certeza, pode haver uma forma de a minha decomposição parar, e ele a havia escondido. Mas no momento, eu tinha certeza de uma coisa:

Eu precisava pegar esse livro de volta.


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