29.12.12

Matryoshka - Capítulo 2

Tento ler mais alguma coisa da página, mas não conseguia. Como as letras estavam meio apagadas, provavelmente era um livro escrito a mão, com as imagens cuidadosamente coladas. Mas não saber o que a palavra ‘’Matryoshka’’ estava fazendo ali no meio, começava a me irritar.


Mas aquelas plantas me pareciam, de certa forma, familiares. Onde eu já as havia visto? Eu não me lembro...

Então eu me lembrei do título que eu não conseguia identificar. Olho a capa. Eu tinha dificuldade pra ver a primeira letra, não conseguindo saber se era ‘’Kalinka’’ ou ‘’Malinka’’. Traduzindo, ou seria Junípero ou Framboesa. Agora eu me lembro. As plantas das fotos eram Juníperos, de diferentes locais.

E então eu fico ainda mais confusa.

Mas que diabos uma coisa tinha haver com a outra?!

Meus dedos batiam raivosamente na madeira do sofá, enquanto eu pensava numa explicação lógica.

Eu me lembro que na Inglaterra, queimava-se o Junípero para espantar bruxas e demônios, sendo ainda hoje usado como essência purificadora no Tibete. Dizem os místicos que evoca sensações de amor e paz, dá suporte e abre caminhos para o despertar espiritual, além de ajudar a criar o ambiente propício à ajuda dos Anjos do Karma, sendo um remédio clássico no auxílio da purificação de traumas e ações negativas do passado.

Certo, isso não tem nada haver comigo mesmo. Mesmo que fosse toda a descrição ao contrário, e eu tenha haver com os mortos, eu não tenho um ‘’passado’’. Não é?

Sinto como se estivesse esquecendo alguma coisa.

Minha dor de cabeça provavelmente causada por forçar tanto a minha memória, parecia aumentar a cada segundo. Desejei ser humana pra poder tomar uma aspirina.


***

Quando anoiteceu, fui novamente à casa de costura. Não para me concertar dessa vez, e sim para perguntar para o meu criador se ele sabia algo sobre aquele livro.

– Senhor? – Eu o chamo, assim que entro na loja.

– Não me diga que precisa se concertar outra vez...-Ele disse, descendo as escadas com seu pijama azul com listras brancas.

– Não, não. – Eu digo, mostrando-o o livro – Eu queria saber sobre isso. Este livro parece falar um pouco sobre botânica, e pelo visto foi escrito à mão há muito tempo. Mas o que eu queria perguntar é...- Não consegui terminar, pois o mesmo arrancou o livro de minhas mãos.

– De onde você tirou isso?! – Ele perguntou, nervoso.

Fitei-o confusa. Porque ele havia ficado bravo?

– Você sempre me deixa pegar livros no andar de cima. Ontem eu achei-o por acidente, e o peguei emprestado.

Ele resmunga alguma coisa e sobe para o segundo andar, enquanto eu o fitava, com minha habitual cara inexpressiva. O que havia sido isso, afinal?

Havia algo sobre mim nesse livro, agora eu tinha certeza. Algo que ele estava desesperadamente tentando esconder. Mas porque? Ele não queria me ajudar? Ele queria encontrar uma maneira de eu continuar aqui, não é? Então porque quando eu finalmente acho algo sobre mim, ele o esconde? Isso não faz sentido...

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